sexta-feira, 6 de setembro de 2013

E é deste sangue


e é deste sangue
que nascem corpos de cinza
que se abrem gritos lancinantes
nas bocas infantis de gente grande
que esbracejam lágrimas
nos olhos enormes dos outros

é um choro cheio de dor
são os napalm expelindo cobardia
nos seios despidos de leite
são os sarin parados nas crianças
é um rio de sangue em enchente

e é deste sangue
que saem punhos
cerrados de nada
e é deste sangue
que sai a morte
de mão dada com a vida
e é deste sangue
que sai um rio de fogo
queimado na pele

é um pranto molhado de sofrimento
são químicos esfacelados na pele
na pele da pele de quem resiste no chão
são gel de incêndio nos humanos que já não há
é um rio vermelho de sangue nos nossos olhos

haverá mais ainda?
talvez mais sangue
talvez mais resistência (será?)

e é deste sangue
que se alimentam as ameaças
que vêm do ferro flutuando no mar
e é deste sangue
morto de vida na inocência
que vivem os abutres
aguardando lá fora

não
mais não
já basta desta pele perdida
já basta deste sangue
que nos repele
já basta

[em homenagem ao povo sírio que tanto tem sofrido, se tem refugiado, que tanto tem morrido]