segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Mil vidas me correm


mil vidas me correm
impávidas e serenas
nas veias sufocadas
e nas artérias inquinadas
das fagulhas deste corpo

tenho milhentas brasas
timidamente a arder
como chamas afagadas
afavelmente à pressa
entre a escrita dos dedos

desenho lutas incontidas
reprimidas de loucura
no vazio das mãos
onde um ânimo de fogo
queima o ar lá fora

mil vidas me assediam
em cada poema
nos punhos côncavos
onde revolto guardo
a água salgada dos olhos

e invento o gesto
de negar esta dor
um sofrimento inexistente
que compulsivamente choro
no silêncio da raiva

mas solta-se um grito
resignadamente impaciente
que existe aos poucos
em cada exata vírgula que apago
em cada sentença que reprimo