segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

Amigo

Amigo,
Ninguém sofre por mim.
Esse prazer que respiro a cada segundo
É a vida que se me escapa
Por entre o pulsar dos dias?

Amigo,
Eu quero secar-me no íntimo.
Quero derramar todas as lágrimas
Recalcadas no meu coração.

Amigo,
Tu não sabes, mas compreende-me.
Esse direito é meu; ninguém mo tira.
Porque, amigo,
Só eu sei sofrer o que vocês não sabem,
Só eu sei o que vocês não sentem.

(Carlos Figueiredo Queiroz, 06-08-2002)



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Amor perdido no caminho
tecem-se os passos
na podridão mais pura
no termómetro da rua
onde habita a lacuna

sente-se o romper
dos sapatos
os gemidos do andar
debaixo do alcatrão

uma espécie
de armas empunhadas
com vómitos
de loucura

são cidades doentes
as febres da gente
é o sofrimento
das pedras atiradas

é a estação
das palavras caducas
as árvores em viagem
nas calçadas da morte

por isso digo
o boato de estar maduro
o amor perdido
no caminho

(poema de Carlos Figueiredo Queiroz escrito em 3 de novembro de 1972)

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Cidade sem nome

gestos comandados
nas mãos
num silêncio
sem boca nem voz

nome impróprio
de cidade
com vozes
mexendo por dentro

as mãos de cada vida
ou talvez apenas
os gestos sem boca
ou a cidade sem nome

(poema escrito por Carlos Figueiredo Queiroz em 27 de setembro de 1972)



















[design artístico de Naty Esteves em 7 de maio de 2015]






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